quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

formas de resistências


Rafael Drumond


Locais e métodos diferentes de resistências tem sido tradicionalmente definidos em termos de tempo e espaço. O objetivo da maior parte das ações de resistências tem sido desestabilizar um espaço físico limitado, na suposição de que o poder, como a sociedade na qual se assenta, é sedentário e está confinado a uma localização geográfica fixa.
No entanto, avanços tecnológicos recentes trouxeram à luz a necessidade de reavaliar a ruptura espacial como a única forma produtiva de resistência. De fato, a própria natureza do poder mudou fundamentalmente. Não mais intimamente amarrado ao espaço estatal, ele se recentralizou na zona livre do tempo. O poder livrou-se tanto quanto possível de seus acessórios sedentários, de forma que o lugar onde se encontra importa menos do que a velocidade de seu movimento entre pontos temporários de bloqueio, e do que o tempo necessário para remover os bloqueios, sejam eles de ordem étnica, econômica ou política.

Com a emergência de redes internéticas, o espaço autoritário pode ser dobrado e levado para qualquer ponto do rizoma eletrônico digital. A máquina de guerra deslocou sua estratégia para longe da fortaleza centralizada e em direção a um campo flutuante descentralizado e desterritorializado. Tornou-se desincorporada. A ideologia que corresponde a este deslocamento econômico ainda está para realmente se solidificar: a ideologia do sedentário ainda é dominante.

Dada essa situação, um dos objetivos-chave para o trabalho cultural da resistência é perturbar a solidificação da nova ideologia antes que ela se torne uma ordem simbólica de uma tirania ainda maior do que a existente, e recanalizar a fusão dos vídeos, telefone e computador para uma forma descentralizada acessível a outros além da elite do poder. Antes esta tarefa quase impossível possa ser tentada, os trabalhadores culturais devem dar um passo atrás e usar o tempo, em vez de espaço, como um referencial para analisar as prioridades da resistência.

Nesse sentido, cabe a pergunta que já se desgastou quando se discutiam historicismo e outras teorias: onde fica a história? quando se trata de mudar profundamente a idéia do tempo perante aos fatos.

Quanto maior a velocidade, maior a intensidade da fragmentação. A história não existe mais: apenas a reflexão especulativa perdura no que é agora o fractal do tempo. As trocas de informaçãoes constantes criaram mecanismos de comunicabilidade entre os indivíduos que tendem para a produção imaterial.

A velha ótica do trabalho, da divisão do trabalho enquanto espinha dorsal histórica no nível macro, ou enquanto crítica da opressão da linha de montagem no nível micro, agora é insuficiente para descrever e explicar a separação que ocorreu no mundo modermo para o pós moderno. A fragmentação do tempo vivido ocorre não apenas em macroinstituições abstratas, mas também existe no nível micro da vida cotidiana, assim como no nível intermediário dos agrupamentos sociais.

O presente foi estilhaçado em milhares de cacos, todos os quais requerem distintas estratégias de resistências. Agora, mais do que nunca, deve-se adotar uma epistemologia anarquista, uma espistemologia que leve a um conhecimento de cada circunstância. A resistência deve permitir e liberar meios de exploração e pesquisa em qualquer zona de tempo ou zona espacial. Software livre, interconexões sem limites, formas ilimitadas de criatividades, sabotagens eletrônicas, interfaces profundas entre a multidão consigo mesma, etc. Quem for capaz de estar livre para se mover através do tempo, estará se deslocando do poder nômade do Império e alimentando a carne da multidão. A esperança voltou para seu devido lugar.

Um comentário:

  1. Bonito texto Rafael. Acho legal assim mesmo, quando se começa pelas resistências e não apenas mapeando o poder. Eu faria apenas duas observações, mas com preguiça de explica-las
    1) Eu não colocaria tanta fé, e não sei se foi essa intenção, no estilhaçamento dos saberes. Hj há uma recuperação de certas compreensões, por meio de sistemas, abertos é verdade, mas sistemas, q é importante.
    2) Essa questão dos softwares livres acho interessante, só com o cuidado de não centrar demais a resistência é na maquina e no virtual, não por humanismo, é claro...

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