segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

CAIXAS-MÁQUINAS-MUNDO DE PANDORA.




Murilo Esteves Junior

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muriloejunior@gmail.com


Os brinquedos infantis são verdadeiras caixas de pandora. E o Circuit Bending vem trazer à tona toda a possibilidade de criação aleatória e caótica desses brinquedos. A princípio, temos um teclado infantil com seus sons de guitarra e pianos pré-moldados e fabricados no modo fordista. Um “bender” resolve abrir essa caixa, tornar “livre” o hardware. As possibilidades de transformar os sons em algo novo são infinitas, horas de experimentações são possíveis, ondas sonoras aleatoriamente alienígenas. Vamos descobrindo o circuito e a arquitetura que há pouco era fechada e restrita; agora estamos livres para nos apropriarmos da maneira que bem quisermos dessa caixa, que ainda não conhecemos muito bem, mas sabemos como funciona e como queremos usá-la: aleatoriamente, experimentalmente e totalmente aberta, para que funcione de acordo com nossos desejos.

Os computadores são verdadeiras caixas-máquinas: máquinas que criam e comandam outras caixas-máquinas, mas são, em sua maioria, caixas fechadas graças às licenças proprietárias. Tanto em Hardware quando em Software, as caixas-máquinas são lacradas. O novíssimo Macbook, que é desejo consumista dos entusiastas da ciber-elite, é o exemplo claro desse sistema fechado da caixa de pandora proprietária. O novo modelo desse laptop é um monobloco (caixa) fechado, tendo parafusos apenas em sua parte de baixo. A empresa alega que isso é em função da economia de bateria, mas sabemos claramente que a Apple é uma empresa proprietária que desenvolve quase todos os componentes de seus computadores com códigos fechados. A arquitetura tanto dos softwares quanto dos hardwares são distintas da maioria dos outros computadores, o que faz com que o conhecimento e a possibilidade de “liberdade” de conhecimento e modificação sobre esse produto seja quase impossível. Ficamos, assim, a mercê de uma caixa fechada, que usamos como os fabricantes bem entendem e nos pré-determinam, já que a caixa não pode ser modificada.

Todos podem usá-la como um computador, podendo ainda adquirir diversos usos como uma máquina de escrever, um instrumento musical ou até mesmo um controlador de eletricidade. A partir do momento que temos acesso às estruturas, às dinâmicas e aos processos interiores, podemos reinterpretar quaisquer dados de uma nova maneira, interagindo inesperadamente com outros objetos.

O software livre PureData (PD) é um exemplo dessa reapropriação, rearticulação e modificação de sinais digitais e analógicos.

Sabendo operar e transformar um sinal, podemos criar novas ferramentas para o nosso mundo e tornar os locais mais acessíveis e mais personalizados a cada um de nós, a computação ubíqua já está diante de nós, vivemos numa única grande caixa.

Um exemplo de hibridização de sinais analógicos/ digitais é o hardware livre arduino.

Já não é mais ficcional imaginarmos locais que nos reconheçam quando adentramos nele, ou melhor, podemos ser reconhecidos em qualquer lugar do planeta graças às tecnologias de controle como RDIF, GPS e outros micro-chips - Deleuze e Guattari já previam isso na sociedade de controle. A caixa-planeta-big-brother está aí, e é usada para recolher dados que nem sempre queremos fornecer.

E os dados que queremos ter acesso? Será sempre um processo de hackeamento? De benders? Será sempre uma invasão, uma destruição e uma fuga? Um êxodo pra dentro do próprio sistema a fim de mostrar os antagonismos, mas também de habilitá-lo e torná-lo comum? A princípio, a abertura dessas caixas-máquinas-mundo-pandora, pode parecer subversiva e criminosa, mas é um desejo comum da multidão conhecer essas dinâmicas escondidas. É a necessidade de tornar o conhecimento de fluxos de bit, dados, sinais e eletricidade comum. Precisamos trazer isso para o cotidiano, para que todos nós, com o conhecimento socializado, possamos nos apropriar dos elementos da maneira como bem quisermos. Cada um pode, a partir de uma caixa comum, utilizá-la de maneira análoga às outras pessoas.

Não podemos mais estar à mercê de um ciber-elite que detém o conhecimento dos processos de reprodução das máquinas. Não podemos mais consumir produtos fechados que vem até nós com uma única funcionalidade. É hora de abrir os circuitos, causar verdadeiras panes e distorções sonoras e elétricas. Preferimos o caos criativo e inovador à repetitiva reprodução monótona.

As coisas são aquilo que vemos, mas podem ser mais que isso. Pois “sabendo portá-la, toda ferramenta é uma arma”.







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