terça-feira, 1 de dezembro de 2009



Foi mais vez Nietzsche, arauto da insanidade, quem colocou de forma lúcida o problema:

Onde estão os bárbaros do século XX-XXI?
Que territórios estão invadindo?
O que querem saquear?


O novo bárbaro saqueia, por um lado, o novíssimo fascismo de mercado e, por outro, nossa mesquinha subjetividade cotidiana. O novo bárbaro é antifascista porque ama a manifestação da diferença, as mestiçagens de todos os tipos, não se horroriza com as experiências alternativas à pseudo normalidade sexual e escapa da cultura das identidades. Ele quer liberar a ação política de toda paranóia unitária e totalizante, quer fazer crescer mais a ação, a proliferação e a disjunção do que a hierarquização piramidal, prefere tudo que é positivo e múltiplo, escolhe o fluxo às unidades, opta, enfim, por tudo que não é sedentário, mas nômade no pensamento. Praticar a barbárie positiva é não precisar ser amargo para ser intelectual ou militante, não exigir que a política restabeleça os “direitos do indivíduo”, pois o indivíduo é, ele mesmo, produto do poder e, principalmente, como diz Foucault, não cair de amores pelo poder. Ou seja, não ansiar por nenhum tipo de poder.

Não desejar o poder, ou melhor, viver uma vida não fascista implica, portanto, num profundo ato de recusa que se manifesta nos mais diversos contornos de nomadismo, deserção e êxodo. Recusar-se a endossar a repressão intrafamiliar, evacuar nossa paixão pelo patriotismo e o regionalismo, com seus toques inevitáveis de racismo, abandonar a mitificação da preguiça, deixar de exaltar, viver e vestir a organização competitiva em grande escala dos mercados esportivos, nomadizar a angustia, a culpabilidade, a virilidade, a monogamia e o fatalismo. Se na modernidade a resistência se dava pelos mais diversos tipos de sabotagem à disciplina industrial e por uma oposição direta ou dialética de forças, em nossos tempos o ato de “ser contra” pode ser mais eficaz numa atitude oblíqua ou diagonal, operada por subtração, ou seja, uma completa deserção dos lugares de poder por meio da criação de modos de vida alternativos.

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