quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

ninguém regula a América.


Rafael Drumond

Quero iniciar essa parada com uma pergunta: se o sistema econômico mundial rejeita a idéia de escassez de recursos, uma vez que, se a demanda exceder a oferta, os recursos ficarão caros e esse excedente será controlado e sanado pelas novas tecnologias que prosseguirão por meio das criatividades e inventividades humanas, por que então não findar ( ou quem sabe, nucleá-lo)logo o conflito busca pela hegemonia x potência criativa da multitude? Para tanto, insisto que o poder de criação de comunicabilidade, de interação, de invenção, de remodelagens sociais, de interrelações entre seres de culturas distintas etc, representam a multidão.

Contudo, penso que a idéia de que a inventividade humana pode superar a escassez natural não é nova. Os positivistas acreditavam que a industrialização permitiria à humanidade vencê-la. Seguindo-os nesta fé, Karl Marx imaginou que o industrialismo tornaria possível um estado de adundância em que tanto os mercados quanto o Estado seriam obsoletos. Essa linha de pensamento se chocou com a década de 90 do século XX, quando por escassez de recursos, estorou uma guerra, afinal, os EUA não permitiriam que o controle das saídas de petróleo kwaitinianos e sauditas saissem de suas mãos.
Longe de dar início a uma nova era de governança global, a globalização está produzindo o renascimento do império. O modo de governo imperial está sendo reiventado em silêncio como único remédio para os perigos que nascem dos Estados fracassados; mas os protetorados criados até agora em países como Bósnia, Kosovo e Afeganistão não são simples projeções do poderio norte-americano. São empreendimentos internacionais, que funcionam dentro do arcabouço de instituições como a OTAN, a União Européia e a ONU, tirando a participação do Banco Mundial e do FMI, na propagação e perpetuação da hegemonia imperial movida por burocracias capitalizadas por corporações sólidas do ponto de vista econômico.

A favor da Al Quaeda, no que diz respeito à ruptura de um mito americano proporcionada pelas atuações militares ( que alguns insistem em dizer que é terrorismo, não entrarei aqui nesse mérito) seja lá de quem for. Penso que a mudança de visão dos próprios americanos acerca do que representa os EUA para o mundo já faz com o que a coisas saem do controle e isso nesse caso é de extrema importância.

Mais uma vez, lido aqui com a dualidade império multidão, retornando e reecaminhando nos mesmos espaços de análises. Talvez quebrar essa regra será o núcleo da dialética do meu próximo post.




terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Difusão Cultural

Há uns dias, lendo um livro de antropologia chamado “Cultura, um conceito antropológico” me deparo com um anexo, já no final, que me fez ter “aquela” vontade de postar.Achei interessantíssimo e super válido posta-lo aqui, segue o texto :

Não resta dúvida que grande parte dos padrões culturais de um dado sistema não foram criados por um processo autóctone, foram copiados de outros sistemas culturais. A esses empréstimos culturais a antropologia denomina difusão. Os antropólogos estão convencidos de que, sem a difusão, não seria possível o grande desenvolvimento atual da humanidade.

Nas primeiras décadas do século XX, duas escolas antropológicas (uma inglesa, outra alemã), denominadas difusionistas, tentaram analisar esse processo. O erro de ambas foi o de superestimar a importância da difusão, mais flagrante no caso do difusionismo inglês que advogava a tese de que todo o processo de difusão originou-se no velho Egito. Mas deixando de lado o exagero difusionista, e mesmo considerando a importância das invenções simultâneas (isto é, invenções de um mesmo objeto que ocorreram inúmeras vezes em povos de culturas diferentes situados nas diversas regiões do globo), não poderíamos ignorar o papel da difusão cultural.

Numa época em que os norte-americanos viviam um grande desenvolvimento material e os seus sentimentos nacionalistas faziam crer que grande parte desse progresso era resultado de um esforço autóctone, o antropólogo Ralph Linton escreveu um admirável texto sobre o começo do dia do homem americano:

O cidadão norte-americano desperta num leito construído segundo padrão originário do Oriente Próximo, mas modificado na Europa Setentrional, antes de ser transmitido à América. Sai debaixo de cobertas feitas de algodão cuja planta se tornou doméstica na Índia; ou de linho ou de lã de carneiro, um e outro domesticados no Oriente Próximo; ou de seda, cujo emprego foi descoberto na China. Todos estes materiais foram fiados e tecidos por processos inventados no Oriente Próximo. Ao levantar da cama faz uso dos “mocassins” que foram inventados pelos índios das florestas do Leste dos Estados Unidos e entra no quarto de banho cujos aparelhos são una mistura de invenções européias e norte-americanas, mias e outras recentes. Tira o pijama, que é vestiário inventado na índia e lava-se com sabão que foi inventado pelos antigos gauleses, faz a barba que é um rito masoquístico que parece provir dos sumerianos ou do antigo Egito.
Voltando ao quarto, o cidadão toma as roupas que estão sobre uma cadeira do tipo europeu meridional e veste-se. As peças de seu vestuário têm a forma das vestes de pele originais dos nômades das estepes asiáticas; seus sapatos são feitos de peles curtidas por um processo inventado no antigo Egito e cortadas segundo um padrão proveniente das civilizações clássicas do Mediterrâneo; a tira de pano de cores vivas que amarra ao pescoço é sobrevivência dos xales usados aos ombros pelos croatas do século XVII. Antes de ir tomar o seu breakfast, ele olha a rua através da vidraça feita de vidro inventado no Egito; e, se estiver chovendo, calça galochas de borracha descoberta pelos índios da América Central e toma um guarda-chuva inventado no sudoeste da Ásia. Seu chapéu é feito de feltro, material inventado nas estepes asiáticas.
De caminho para o breakfast, pára para comprar um jornal, pagando-o com moedas, invenção da Líbia antiga. No restaurante, toda uma série de elementos tomados de empréstimo o espera. O prato é feito de uma espécie de cerâmica inventada na China. A faca é de aço, liga feita pela primeira vez na Índia do Sul; o garfo é inventado na Itália medieval; a colher vem de um original romano. Começa o seu breakfast com uma laranja vinda do Mediterrâneo Oriental, melão da Pérsia, ou talvez uma fatia de melancia africana. Toma café, planta abissínia, com nata e açúcar. A domesticação do gado bovino e a idéia de aproveitar o seu leite são originárias do Oriente Próximo, ao passo que o açúcar foi feito pela primeira vez na Índia. Depois das frutas e do café vêm waffles, os quais são bolinhos fabricados segundo uma técnica escandinava, empregando como matéria-prima o trigo, que se tornou planta doméstica na Ásia Menor. Rega-se com xarope de maple, inventado pelos índios das florestas do Leste dos Estados Unidos. Como prato adicional talvez coma o ovo de uma espécie de ave domesticada na Indochina ou delgadas fatias de carne de um animal domesticado na Ásia Oriental, salgada e defumada por um processo desenvolvido no Norte da Europa. Acabando de comer, nosso amigo se recosta para fumar, hábito implantado pelos índios americanos e que consome uma planta originária do Brasil; fuma cachimbo, que procede dos índios da Virgínia, ou cigarro, proveniente do México. Se for fumante valente, pode ser que fume mesmo um charuto, transmitido à América do Norte pelas Antilhas, por intermédio da Espanha. Enquanto fuma, lê notícias do dia, impressas em caracteres inventados pelos antigos semitas, em material inventado na China e por um processo inventado na Alemanha. Ao inteirar-se das narrativas dos problemas estrangeiros, se for bom cidadão conservador, agradece rã a uma divindade hebraica, numa língua indo-européia, o fato de ser cem por cento americano.


Referência:
Laraia, Roque de Barros, 1932-
1.331c Cultura: uni conceito antropológico / Roque
14.ed. de Barros Laraia. — 14.ed. — Rio de Janeiro: Jorge
“Zahar Ed., 2001
(Antropologia social)

Lorran Oliveira

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

CAIXAS-MÁQUINAS-MUNDO DE PANDORA.




Murilo Esteves Junior

www.twitter.com/muriloejunior

muriloejunior@gmail.com


Os brinquedos infantis são verdadeiras caixas de pandora. E o Circuit Bending vem trazer à tona toda a possibilidade de criação aleatória e caótica desses brinquedos. A princípio, temos um teclado infantil com seus sons de guitarra e pianos pré-moldados e fabricados no modo fordista. Um “bender” resolve abrir essa caixa, tornar “livre” o hardware. As possibilidades de transformar os sons em algo novo são infinitas, horas de experimentações são possíveis, ondas sonoras aleatoriamente alienígenas. Vamos descobrindo o circuito e a arquitetura que há pouco era fechada e restrita; agora estamos livres para nos apropriarmos da maneira que bem quisermos dessa caixa, que ainda não conhecemos muito bem, mas sabemos como funciona e como queremos usá-la: aleatoriamente, experimentalmente e totalmente aberta, para que funcione de acordo com nossos desejos.

Os computadores são verdadeiras caixas-máquinas: máquinas que criam e comandam outras caixas-máquinas, mas são, em sua maioria, caixas fechadas graças às licenças proprietárias. Tanto em Hardware quando em Software, as caixas-máquinas são lacradas. O novíssimo Macbook, que é desejo consumista dos entusiastas da ciber-elite, é o exemplo claro desse sistema fechado da caixa de pandora proprietária. O novo modelo desse laptop é um monobloco (caixa) fechado, tendo parafusos apenas em sua parte de baixo. A empresa alega que isso é em função da economia de bateria, mas sabemos claramente que a Apple é uma empresa proprietária que desenvolve quase todos os componentes de seus computadores com códigos fechados. A arquitetura tanto dos softwares quanto dos hardwares são distintas da maioria dos outros computadores, o que faz com que o conhecimento e a possibilidade de “liberdade” de conhecimento e modificação sobre esse produto seja quase impossível. Ficamos, assim, a mercê de uma caixa fechada, que usamos como os fabricantes bem entendem e nos pré-determinam, já que a caixa não pode ser modificada.

Todos podem usá-la como um computador, podendo ainda adquirir diversos usos como uma máquina de escrever, um instrumento musical ou até mesmo um controlador de eletricidade. A partir do momento que temos acesso às estruturas, às dinâmicas e aos processos interiores, podemos reinterpretar quaisquer dados de uma nova maneira, interagindo inesperadamente com outros objetos.

O software livre PureData (PD) é um exemplo dessa reapropriação, rearticulação e modificação de sinais digitais e analógicos.

Sabendo operar e transformar um sinal, podemos criar novas ferramentas para o nosso mundo e tornar os locais mais acessíveis e mais personalizados a cada um de nós, a computação ubíqua já está diante de nós, vivemos numa única grande caixa.

Um exemplo de hibridização de sinais analógicos/ digitais é o hardware livre arduino.

Já não é mais ficcional imaginarmos locais que nos reconheçam quando adentramos nele, ou melhor, podemos ser reconhecidos em qualquer lugar do planeta graças às tecnologias de controle como RDIF, GPS e outros micro-chips - Deleuze e Guattari já previam isso na sociedade de controle. A caixa-planeta-big-brother está aí, e é usada para recolher dados que nem sempre queremos fornecer.

E os dados que queremos ter acesso? Será sempre um processo de hackeamento? De benders? Será sempre uma invasão, uma destruição e uma fuga? Um êxodo pra dentro do próprio sistema a fim de mostrar os antagonismos, mas também de habilitá-lo e torná-lo comum? A princípio, a abertura dessas caixas-máquinas-mundo-pandora, pode parecer subversiva e criminosa, mas é um desejo comum da multidão conhecer essas dinâmicas escondidas. É a necessidade de tornar o conhecimento de fluxos de bit, dados, sinais e eletricidade comum. Precisamos trazer isso para o cotidiano, para que todos nós, com o conhecimento socializado, possamos nos apropriar dos elementos da maneira como bem quisermos. Cada um pode, a partir de uma caixa comum, utilizá-la de maneira análoga às outras pessoas.

Não podemos mais estar à mercê de um ciber-elite que detém o conhecimento dos processos de reprodução das máquinas. Não podemos mais consumir produtos fechados que vem até nós com uma única funcionalidade. É hora de abrir os circuitos, causar verdadeiras panes e distorções sonoras e elétricas. Preferimos o caos criativo e inovador à repetitiva reprodução monótona.

As coisas são aquilo que vemos, mas podem ser mais que isso. Pois “sabendo portá-la, toda ferramenta é uma arma”.







segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

O Império Contra Ataca

Thamiris Souza


Apesar das aparências o império não acabou com a independência das ultimas colônias africanas nos anos 70, hoje ainda essas mesmas colônias são exploradas e não só elas, mas também as das Américas e da Ásia continuam o ciclo de produzir e enviar riqueza para uma "metrópole".
Mas hoje as metrópoles não são tão facilmente identificadas, elas num tem um povo, uma língua, nem mesmo um ponto geográfico especifico que as caracterize, as metrópoles imperialistas do século XXI são as grandes empresas multinacionais.
Elas estão e toda a parte, envolvidas em todo tipo de negócios, e tem armas capazes de fazer valer sua vontade em qualquer parte do globo. Os ajustes do fundo monetário internacional (FMI) são um exemplo. Todas as ações impingidas pelo fundo aos países devedores como forma de liberação de mais credito tem o único objetivo de preparar o terreno para a ação das multinacionais, os bem elaborados planos neoliberais de desenvolvimento só tem como resultado o aumento da pobreza e o saque aos bens do estado.
Vale a pena falar um pouco do nosso velho amigo, o estado. Comitê para gerir os interesses comuns da burguesia, como notou Marx, o estado hoje é ainda mais maléfico. Ele vende os países mundo a fora realizando ajustes para maximizar os lucros do mercado em detrimento da miséria da população.
O fato é que como Adam Smith havia previsto, o liberalismo se tornou global, e os seus "benefícios" hoje atingem todo o mundo. A exploração que no passado foi de homem a homem hoje atingiu níveis assombrosos, as vitimas são contadas aos milhões e não existe esperança de que o cenário vá mudar.
Essa mentalidade de "lucros acima da vida humana", que vem tomando conta da humanidade desde que o fim do feudalismo, vai provavelmente causar o fim dos seres humanos como espécie. Com duas guerras mundiais e uma fria no currículo acho que os impérios do século XXI estão no caminho certo para nos aniquilar.


Globalização

GALDÊNCIA BARCELOS FANTIN



Com o fenômeno moderno da globalização da economia as organizações estão buscando diferentes formas de cooperação para aumentarem a sua competitividade. O desenvolvimento das tecnologias da informação e comunicação (TIC’s) aponta para uma intensificação do seu uso nas relações de negócios entre empresas, provocando alterações principalmente com relação à interação com o consumidor, na logística de obtenção dos suprimentos, na integração da cadeia de valor e na gestão do conhecimento. Nesse contexto, o conceito de organização virtual está sendo pesquisado como uma alternativa estratégica para aumentar os ganhos dentro de uma cooperação entre organizações. Este estudo apresenta a pesquisa realizada com empresas dos segmentos de tecnologia, empreendimentos turísticos e laboratórios de pesquisa na cidade de Florianópolis objetivando conhecer suas competências e formar o primeiro elemento da organização virtual: a plataforma. Diante da complexidade da identificação da competência essencial, esta foi considerada a partir de suas habilidades constituintes. A pesquisa estrutura um conjunto de informações com esse intuito e mostra o posicionamento de cada setor abordado de acordo com as características (vetores) mapeados. O trabalho contribui para o estabelecimento empírico e teórico de referências para outras regiões que, a exemplo de Florianópolis, escolheram desenvolver sua economia por meio de programas regionais, estabelecimento de parques tecnológicos, incubadoras e incentivos governamentais. Com isso, uma nova forma de desenvolver oportunidades, por meio da cooperação sistemática de competências complementares pode criar níveis cada vez maiores de excelência e competitividade acompanhando os requerimentos exigidos pela globalização econômica e pelos mercados de alta tecnologia.

PALAVRAS-CHAVE: Organizações virtuais. Cooperação entre empresas. Alianças. Corporação virtual. Competências empresariais. Competência essencial.


sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Publiquei um texto curto sobre resistência na revista de filosofia da PUC do Rio Grande do Sul:


http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/intuitio/article/view/5978/4548

Davis

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

formas de resistências


Rafael Drumond


Locais e métodos diferentes de resistências tem sido tradicionalmente definidos em termos de tempo e espaço. O objetivo da maior parte das ações de resistências tem sido desestabilizar um espaço físico limitado, na suposição de que o poder, como a sociedade na qual se assenta, é sedentário e está confinado a uma localização geográfica fixa.
No entanto, avanços tecnológicos recentes trouxeram à luz a necessidade de reavaliar a ruptura espacial como a única forma produtiva de resistência. De fato, a própria natureza do poder mudou fundamentalmente. Não mais intimamente amarrado ao espaço estatal, ele se recentralizou na zona livre do tempo. O poder livrou-se tanto quanto possível de seus acessórios sedentários, de forma que o lugar onde se encontra importa menos do que a velocidade de seu movimento entre pontos temporários de bloqueio, e do que o tempo necessário para remover os bloqueios, sejam eles de ordem étnica, econômica ou política.

Com a emergência de redes internéticas, o espaço autoritário pode ser dobrado e levado para qualquer ponto do rizoma eletrônico digital. A máquina de guerra deslocou sua estratégia para longe da fortaleza centralizada e em direção a um campo flutuante descentralizado e desterritorializado. Tornou-se desincorporada. A ideologia que corresponde a este deslocamento econômico ainda está para realmente se solidificar: a ideologia do sedentário ainda é dominante.

Dada essa situação, um dos objetivos-chave para o trabalho cultural da resistência é perturbar a solidificação da nova ideologia antes que ela se torne uma ordem simbólica de uma tirania ainda maior do que a existente, e recanalizar a fusão dos vídeos, telefone e computador para uma forma descentralizada acessível a outros além da elite do poder. Antes esta tarefa quase impossível possa ser tentada, os trabalhadores culturais devem dar um passo atrás e usar o tempo, em vez de espaço, como um referencial para analisar as prioridades da resistência.

Nesse sentido, cabe a pergunta que já se desgastou quando se discutiam historicismo e outras teorias: onde fica a história? quando se trata de mudar profundamente a idéia do tempo perante aos fatos.

Quanto maior a velocidade, maior a intensidade da fragmentação. A história não existe mais: apenas a reflexão especulativa perdura no que é agora o fractal do tempo. As trocas de informaçãoes constantes criaram mecanismos de comunicabilidade entre os indivíduos que tendem para a produção imaterial.

A velha ótica do trabalho, da divisão do trabalho enquanto espinha dorsal histórica no nível macro, ou enquanto crítica da opressão da linha de montagem no nível micro, agora é insuficiente para descrever e explicar a separação que ocorreu no mundo modermo para o pós moderno. A fragmentação do tempo vivido ocorre não apenas em macroinstituições abstratas, mas também existe no nível micro da vida cotidiana, assim como no nível intermediário dos agrupamentos sociais.

O presente foi estilhaçado em milhares de cacos, todos os quais requerem distintas estratégias de resistências. Agora, mais do que nunca, deve-se adotar uma epistemologia anarquista, uma espistemologia que leve a um conhecimento de cada circunstância. A resistência deve permitir e liberar meios de exploração e pesquisa em qualquer zona de tempo ou zona espacial. Software livre, interconexões sem limites, formas ilimitadas de criatividades, sabotagens eletrônicas, interfaces profundas entre a multidão consigo mesma, etc. Quem for capaz de estar livre para se mover através do tempo, estará se deslocando do poder nômade do Império e alimentando a carne da multidão. A esperança voltou para seu devido lugar.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Esse texto foi só para dar início aos trabalhos e para mostrar que só precisa ser um ensaio, uma poesia, uma ideía, e não um texto acadêmico formal.
Abraço a todos que participaram do Gen esse ano.


Foi mais vez Nietzsche, arauto da insanidade, quem colocou de forma lúcida o problema:

Onde estão os bárbaros do século XX-XXI?
Que territórios estão invadindo?
O que querem saquear?


O novo bárbaro saqueia, por um lado, o novíssimo fascismo de mercado e, por outro, nossa mesquinha subjetividade cotidiana. O novo bárbaro é antifascista porque ama a manifestação da diferença, as mestiçagens de todos os tipos, não se horroriza com as experiências alternativas à pseudo normalidade sexual e escapa da cultura das identidades. Ele quer liberar a ação política de toda paranóia unitária e totalizante, quer fazer crescer mais a ação, a proliferação e a disjunção do que a hierarquização piramidal, prefere tudo que é positivo e múltiplo, escolhe o fluxo às unidades, opta, enfim, por tudo que não é sedentário, mas nômade no pensamento. Praticar a barbárie positiva é não precisar ser amargo para ser intelectual ou militante, não exigir que a política restabeleça os “direitos do indivíduo”, pois o indivíduo é, ele mesmo, produto do poder e, principalmente, como diz Foucault, não cair de amores pelo poder. Ou seja, não ansiar por nenhum tipo de poder.

Não desejar o poder, ou melhor, viver uma vida não fascista implica, portanto, num profundo ato de recusa que se manifesta nos mais diversos contornos de nomadismo, deserção e êxodo. Recusar-se a endossar a repressão intrafamiliar, evacuar nossa paixão pelo patriotismo e o regionalismo, com seus toques inevitáveis de racismo, abandonar a mitificação da preguiça, deixar de exaltar, viver e vestir a organização competitiva em grande escala dos mercados esportivos, nomadizar a angustia, a culpabilidade, a virilidade, a monogamia e o fatalismo. Se na modernidade a resistência se dava pelos mais diversos tipos de sabotagem à disciplina industrial e por uma oposição direta ou dialética de forças, em nossos tempos o ato de “ser contra” pode ser mais eficaz numa atitude oblíqua ou diagonal, operada por subtração, ou seja, uma completa deserção dos lugares de poder por meio da criação de modos de vida alternativos.